terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ah... chega de se lamentar!

"We must embrace pain and burn it as fuel for our journey. ~Kenji Miyazawa"

E como diria um blog que eu amava muito, mas morreu... Chega de usar "falta de assunto" como desculpa para não escrever aqui... a verdade é que a falta de talento sempre pesa mais.

Lamentos de novo. Mas é que a vontade de socar o nada está martirizando minha alma... de novo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um pássaro e um girassol

O que ele sentia era a leveza do alívio, do fim da busca. Aquela que martelava uma, duas, três vezes o lugar mais reservado de seu cérebro. A busca dos porquês, agora entendidos, ia desfazendo-se pouco a pouco, como o castelo de areia ao abraco de cada nova onda que chegava ao seu coracao, ambos a ritmos perfeitos.

Pensava nao existir sentimento mais gostoso que esse. Era como depois de dias amarrado em um texto, imóvel pela oqüidao do incerto, conseguir pôr, enfim, o ponto-final. Dar o anseado grand-finalle à sua obra-mestre. Soltar o suspiro desesperado da satisfacao, inalando e expirando o ar da conquista, um pálido sorriso estampado na cara. Usava essa comparacao para desenhar (em garranchos!) o estado em que encontrava-se: leve, mais leve que tudo!

Nada de pesos machucando-lhe as costas, abrindo feridas impossíveis de cicatrizar-se sozinhas. Já nao havia bolas de ferro atarracadas aos seus pés. Caminhava escolhendo seus caminhos, mas agora era diferente. Nao andava às cegas, tateando, a tropecos, o nada. Nao, havia encontrado um guia, conhecedor do mundo, do homem, da natureza, do universo. Mostrava-lhe o caminho, mas era decisao sua obedecê-lo ou nao. E por isso queria gritar o mais alto que pudesse. Porque era livre.

A cada movimento, invadia, insistente, uma vontade de sair gritando aos quatro cantos da terra que estava livre do medo. Oh, o medo e sua maquiagem horrenda, sua vozinha insuportável e mesquinha, suas maos afincadas aos fios de sua camiseta, puxando-o, sempre, sempre, sempre para trás. Os pesadelos chegavam ao fim.

Era um dos pesos que o machucavam e nao iriam fazê-lo mais. As lágrimas de dor nao lhe deixava ver que chorar de alegria é infinitas vezes melhor do que chorar de tristeza.

Agora, depois de escutar tanto, queria viver aquilo, toda a explosao de amor e certeza que, a duras penas, havia entendido. Sabia que nao seria fácil, mas em breve, como na brincadeira, iria passar de mao em mao o anel. Passaria - ocultado pelo véu do tempo para ele desconhecido - ao par de maos cuja pulsacao transcendesse o natural. A vibracao de dois coracoes pulsando juntos, desejando o mesmo, era o sinal para num impulso, rapidíssimo, deixar rolar entre os vinte dedos o anel... O anel, há tao pouco grande ou pequeno demais para si, e agora de encaixe simplesmente perfeito.

Era incrível demais. Compreendê-lo estava fora de seus planos. Ou dentro, mas de forma diferente. Tudo agora seria diferente. Ele já nao sabia nada. Mas estava feliz. Feliz.

Fôlego no meio do breu

Voltarei. Percorrerei quilômetros pairando sobre nuvens fofas e esvaziadas de dor. Sim. Mesmo que com o dedo sangrando, um murro de elevador na boca, mas retorno inteira. Não há mais cansaço e o silêncio principia do seu fim.
Peço perdão pela simplicidade de hoje. Mas a noite já envolve meus olhos. Minha pele já pede o carinho do travesseiro e o consolo dos abraços de mãe. Já não sou estranha a mim mesma e isso me faz ter calma, ter paciência, compreender.
Tenho palavras a destilar. Tenho que agradecer a todos vocês que nos visitam de todas partes do país e do mundo. É uma alegria mesmo a enfeitar meus dias ao saber da sua existência. Vou ficar piegas agora e muito comum... Mas é que a universalidade dos meus sentimentos são maiores do que a minha vontade de possuir uma esnobe refinação emocional. Então, digo. Grito meu obrigada-cafona aos blogs-amigos e aos cometários que tanto me fizeram sorrir.
Escrever aqui é simplesmente maravilhoso! Franchos, nem sabe o tanto que essa amizade, essa parceria me engrandece. Sou um ponto de luz agora no meio desse calor, dessa escuridão. Estou aqui, no meio dessas cabeças voltadas para a televisão tão dura, tão alheia...
Ainda pode ser meio, porém logo me moverei e chegarei. Volto, e não importa as lágrimas que passaram, a solidão que tanto me deixou cheia de hematomas. Sempre há gelo, não é? E virão as mãos que se enlaçam, amigos que retornam, sucos a beber e canecas que pousam em cima da mesa.
O silêncio esmorece agora. e daqui a pouco... respiro!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Fico com Vinícius

"Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca. Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade. "
(Martha Medeiros!)


As coincidências são como um tapa inesperado tomado na cara. Os olhos ficam como pratos, a respiração falha e a cabeça transforma-se num redemoinho, que só sabe girar e devastar o que era certeza, sem interpretar os motivos.

Quando li o seu e-mail, Psiquê, tive um déjà vu. Eu, buscando no blog como estava em dezembro do ano passado, o que havia escrito, uma resposta para uma pergunta que não deixava de gritar dentro de mim: havia eu mudado tanto?

No 1º dia de 2008 dizia que podiam apostar em mim. Ah... Disseram que apostavam até duas fichas! Sim, o estado de ânimo era outro. Mas ainda falava dele, do destino. E um ano depois, ainda não acredito ser ele o responsável por elas, essas coincidências. É algo mais forte, capaz de provocar reações, descobertas, mudanças que são simplesmente inimagináveis, inacreditáveis.

Não sei se o que sinto é vergonha ou decepção por às vezes deixar a fraqueza ser senhora. Ou se as duas coisas, ou se só estou vazio, como uma “caixinha estúpida”. Ali, nas últimas horas daquele ano que havia sido tão... catártico, nas águas do Oceano Pacífico, o vento quente acariciando minha face, aquelas palavras que você me disse, lidas havia tão pouco tempo, vieram à minha mente: “Prometi arriscar... É hora de fazer algo, de parar de simplesmente esperar acontecer, como se tudo fosse virar realidade num passe de mágica... E que venham os medos, as frustrações e decepções. Se não estiver preparado, aprenderei com os erros. Realmente acredito que quando lutamos verdadeiramente pelo que queremos, nós alcançamos."

A realidade agora é outra. Como eu, você, como nossa vida. Não é de se espantar. Mas de repente sinto encher-se de alegria, tão veloz como um cometa, aquela caixa vazia. Por quê? Por poder dizer que, depois de tudo, as convicções não! Ah, as convicções não mudaram! Não mudaram...
...depois de tantas experiências. De tantos sorrisos compartilhados. Das doloridas lágrimas derramadas em companhia apenas do travesseiro, tão sós... Depois das vitórias, das derrotas. De subitamente ser capaz de voar e no outro dia sentir-se como árvore, preso a minhas raízes. De receber aprovações e já no finalzinho, o sol quase indo embora, reprovações atrás de reprovações... Depois de conhecer outra terra, de amá-la e abraçá-la. E logo querer desesperadamente voltar. E ficar, e ir, e ficar...

Depois de tanto, as convicções não mudaram.

Suspiro aliviado.

Aqui estou. Forte, cheio de esperança. Os vales são inevitáveis em mim. Mas não vivo neles, são passageiros. Enquanto permito-me estar lá, choro, soluço, desisto. Olho pra trás, sou paralisado pelo medo. Até que saio, inúmeras vezes cegado pela beleza do sol, da vida. Aprendo, e volto a acreditar.

Sou outro - e o mesmo. Nadando contra a maré em busca dos sonhos, vivendo a magia de vê-los tão distantes e tão próximos.
Apesar da freqüência em que vejo a lata de tinta caindo sobre a cabeça, as risadas de deboche, os dedos apontando - nada, nada disso me importa. Posso ser ou soar tolo, mas respondo tocando a gaita e dançando sob o doce olhar da felicidade. Os braços estirados, os músculos relaxados, nas pontas dos pés, para ver além.

É reconfortante saber que pude despertar em alguém o desejo de crescer, de lutar e de vencer.

O obrigado que faltava. Por viver, por chegar até aqui. Obrigado!

E para começar o ano de dois mil e novo, o poema primeiro, Rhode, cuja beleza preencheu cada espaço de nosso ser naquele ano.


Os acrobatas

Subamos!

Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

Vinícius de Moraes