quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A simples despedida

Aos grandes Muros repletos de ecos infantis,


Presídio de bola, corda, giz e quadro-negro, onde estão as crianças que correram seus chãos? Desaparecidos na vida, sei que devem seguir algum caminho. Mas meu coração explode ao pensar se todos conseguiram obter da realidade aqueles sonhos sem fim.

Lá vão pelo tempo adentro, essas vinte e oito crianças, malogradas ou afundadas em realização, Muros. Saíram pra sempre de seus domínios e foram pelo mundo de sal. Adivinho que vocês querem segui-las, prendê-las nos anos 90. Elas são mais bonitinhas assim. São pequenas, são delicadas, são suspiros intocáveis.

Mas não podemos prender o céu em uma gaiola. A infinitude do caminho de cada um destrói qualquer grade e fechadura. O melhor? É dizer adeus, pois não se pode prender a abstração da infância. Acenem a simples despedida. Anoiteçam esse passado azul e branco repleto de bonequinhos, de uma vez. E assim, se machuquem, Muros. Percam seus tijolos de imensidão, pois nenhuma dessas mãozinhas retorna por já lhe terem dado derradeiro "até nunca mais".

sábado, 15 de agosto de 2009

Conversas noturnas - monólogo 1


Marcella-colorida foi embora com um pedaço do meu arco-íris e agora tudo é cinza e entediante. Meus cigarros são meus dedos e eu os fumo assim: digitando. Quando o câncer da solidão vier por eu tanto fumar dedos... quando ele invadir, enegrecendo minha alma, não farei quimio, radioterapia. Engolirei as partes pretas e podres de mim, e nessa autofagia, nesse Oroboros, esperarei com um sorriso amargo aqueles dias prósperos que o aripiprazol prometeu.

Ou para evitar metáforas (como dizia Tiburi), esperarei o melhor dos reencontros.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Como não atingir o nirvana

A mulher do apartamento da frente está sempre à janela. A música que emana de lá revela o seu bom gosto, seu refinamento. Ela as escuta olhando pra cá, olhando pra rua. A imagem é quase de um clichê bonito. Falta-lhe o cigarro, preso aos dedos e aquele olhar arrogante que tanto denota solidão.

Desejo não ser como ela. Não quero ficar à janela, mesmo que seja poético. Não quero boas músicas. Refinamento? Para quê? Eu seria uma pessoa mais fácil, caso minhas melodias favoritas fossem as da moda. Eu seria bem mais tranquila, se minha alegria viesse com o próximo capítulo da novela das nove, oito, sete... Eu me daria trégua, caso eu começasse frases com "Are baba!" (ou o que for a ortografia dessa expressão que tanto me debilita).

Eu e minha televisão? Felicidade suprema. Eu e meu orkut? Um nirvana... Um nirvana que não faria meu self ser atingido, mas... a minha plena convicção de consciência de mim mesma seria estupenda. E assim, a vida fluiria em doce patetice, em sorriso e conversas recheadas de eternas frases feitas.