terça-feira, 17 de novembro de 2009

A um magnífico pensador

Fernando,

A felicidade me percorre e eu tenho que reparti-la com você. É um presente que quero te dar!
Eu sei, aniversários não são fáceis. Dia esquisito e afoito, o aniversário é uma pílula gorda que engolimos sem água. Trava a garganta, dá nó na alma. Perplexidade.

Você faz 20 anos hoje e se sente pequeno apesar de ter chegado em conclusões que homens que vão fazer 70 sequer poderão vislumbrar. É pesado viver, ter que se acostumar com o pouco das explicações disponíveis, você diz. Há dias em que o "não" prepondera. Não há paz, não há alegria, não há força, não há ânimo, não há propósito em continuar em um caminho de paus e pedras, não há hombridade, não, não e não.

Mas esses dias passam. Eles doem, são dias que machucam, rasgam a alma, nos dividindo em fragmentos absurdos. Pedaço de gente viramos. Mas passam. Passam levando um pouco da nossa inocência, da nossa infantilidade. Transcendemos. E não há limite pra isso. É um devir.

E era isso que eu gostaria de te dar hoje. Meu devir.

Hoje eu parei de amar o meu contrário: a perfeição. Enxergo com nitidez quem sou. Aqui está minha cara. Nem digo rosto. É cara e é cheia de buracos, futuras rugas, manchas e assimetrias. Mas eu não a temo. Não que eu tenha me acomodado, mas simplesmente, não a temo mais. Essa sou eu. Imperfeita. Envelheço, terei maiores marcas e sou indiferente ao fato de envelhecer.

Sabe, o fim é acalentador e nós precisamos percebê-lo. Eu começo, eu termino. Caso contrário, a megalomania vampiresca de uma mentira:"oh, nunca vamos morrer" dilaceraria o fato de que devemos ser os homens aqui, manejarmos a faca aqui, rasgarmos o celofane da idiotice e dos contos de fada aqui! Sejamos hábeis em sentir os minutos de vida, Fernando. Ao sentir, sabemos aproveitá-los e não deixamos a onda da pieguice levar nossa curiosidade.

Dê adeus ao tédio por mim! Há muito o que descobrir, há delírios que necessitam ser derrubados. Há lugares, há possibilidades! Sou eu que decido! E isso é tão grandioso que transpassa aquela dor mesquinha de se enxergar trucidada pelo absurdo de um mundo troglodita que pateticamente vangloria os que vão pelo caminho fácil.

Chega de temer o fracasso, a dor, o pavor e angústia. Se odiamos o caminho fácil e somos orgulhosos demais para nos habituarmos com a mediocridade, aceitemo-nos. Sou orgulhosa sim! Sou falha sim, e isso não é relevante, é? É como uma formiga se olhasse no espelho e dissesse: "Nossa, sou um hexápode, para que fui nascer assim? Eu queria tanto ser uma aranha, que lindos são os pedipalpos dela! Vida maldita!"

Digo assim, porque não há como a formiga virar aranha. Não há cirurgia. Não há mentira cabível que a faça acreditar nisso. Enganados, acreditamos que o mundo promete transformações mágicas. Oh, sua cara tem buraco? O mundo te dá outra se você quiser. E você passa a ser menos imperfeito.

Mas e aí? Tenho uma cara nova e... e nossa, a vida vai fazer mais sentido e eu vou compreender o porquê de haver tanto sofrimento concomitante há tanta felicidade? Vou? Eu, formiga, serei mais aranha?

Ah, não. Não é verdade. A violência escancara as janelas de nossa estabilidade, a injustiça permeia e quer saber... são todos humanos idiotas. E eu? Também idiota. E a idiotice salva e redime quando ela é percebida e lapidada. A cara cheia de buraco é minha. Eu sei que se eu mudá-la vou continuar tão imbecil quanto antes. Sei inclusive, que uns nascem com menos buracos... O fato mesmo é que não adianta desejar ser a impossibilidade.

A alegoria que te dei hoje é essa. Não podemos desejar a impossibilidade e não adianta amar o contrário de si. Não há melhora. Parece que ao enxergarmos a migalha que somos, revoltosamente, lutamos para sermos pão. Mas não é, porque dentro há a razão dizendo: migalha não vira pão! E a frustração vai reinar e acabar com toda nossas futuras vitórias!

Não deseje ser pão. Não deseje ser aranha. Não estou dizendo para se acomodar. Estou dizendo que não há nada ruim em ser quem somos. E que esplêndido isso, não?

O tempo todo a sociedade nos controla dizendo: "seu imperfeito! Você não é o primeiro lugar, você não tem aquele carro lindo, você não é o que deveria ser". E nós ficamos tristes, e ficamos passíveis. E dói tanto ser imperfeito. E dói tanto não ser o que eu deveria ser...

Viu o macabro? Outros escolhem "o que devemos ser". Alguém no mundo das formigas escolhe aleatoriamente um modelo: aranha. E propaga: felizes são as aranhas e infeliz é você, formiga. E a formiga, miserável, passa a odiar o que ela é para amar o impossível. E as consequências, são funestas. Ao negarmos quem somos, não temos a consciência do nosso "eu". Não vivemos. Passamos a projetar tudo na aranha. E não há transcendência, porque não há como alguém evoluir se ele fica preso na ideia de que ele é um eterno fracasso incapaz de acertar uma única vez.

Eu te dou minha reflexão de hoje, Fernando. Que essa felicidade faça sentido pra ti como faz pra mim. Não deixe Aristóteles te massacrar tanto. E não sofra da síndrome do "super-homem" de quem lê e compreende "O anticristo" de Nietzsche. Lute pelo hoje, pelos seus projetos e não pelos projetos que alguém escolheu pra você. Entre a imbecilidade da sociedade e a minha... eu prefiro a minha... pelo menos eu não saio processada e quadradinha como a maioria. Faço da minha vida, realmente a "minha" vida, minhas opções, meus ideais.



Abraços de sua amiga, aquela cheia de buraco.





segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Faltam 15 minutos para amanhã!
Ai que agonia!

domingo, 15 de novembro de 2009

In drugs we trust

Então a luta chega. E é.