segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A lágrima do palhaço

A mente divide-se do corpo. Um deseja ficar, o outro ir-se.

Saudade pode não ser calvário, mas é dor. Aquela dor que vem e vai. Vem. E vai.
É difícil escrever. Sinto-me impotente, e a vontade de deixar os dedos voarem sem rumo é inibida por algo que... não sei bem o quê.
Já não quero esconder-me na câmara escura do não-ser. Estou tão sufocado. A palma da mão chega a empurrar a porta, mas nunca leva consigo os braços, as pernas. O ser permanece lá, emaranhado em redes invisíveis, imóvel. Redes incompreensíveis aos olhos dos que não vêem a complexa e satisfatória vida podada diariamente pela consciência nossa.

É engraçado como transcorre o tempo - "implacável". Ontem tudo era cor. As mais estúpidas piadas me faziam rir, o frio não era problema, o cabelo grande e despenteado, apenas cabelo grande e despenteado.
Hoje, o espelho reflete as cicatrizes. Mostra, malévolo, os vazios, os ocos, a falta de. Tudo adquire aquela melancólica cor pastel. As horas tardam-se a passar. Deseja-se, nesses dias, que o vento leve absolutamente tudo. Que as máscaras derretam. Que o sol vaia-se de uma vez e traiga a noite, cujo mistério, afinal, conversa com a fumaça dos meus cigarros. A solidão (ou seria outro sentimento?) nunca foi amiga única. Sempre aparece, fazendo companhia até ao mais feliz dos humanos. Não preciso descrevê-la.

E não há mais a dizer. Amanhã, talvez, a sanfona que é a vida toque uma canção doce e agradável. Agora, apenas deixarei que me enfeiticem as fadas dos contos. Venham. Esperarei os sonhos ou o que queiram trazer, escutando a música suave e triste. Dormirei o sono que não descansa. Venham logo.

Porque não encontra-se no corpo o meu cansaço. Está na mente. E quer ficar.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

"Pra não dizer que não falei das flores..."


E então... passando de carro me deparo com A placa. Comovente, não? ^^ 100% anti-furto!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A hard day's night

Quando lhe disse que estava cansado dos assuntos que nao eram seus, percebeu no rosto enrugado da senhora o esforco para entender. Talvez nao fosse capaz de explicar-se verdadeiramente como queria. As palavras ditas nunca foram seu forte. E para dificultar sua dificuldade de dizer, era um sentimento demasiado estranho. Quando detectou o mais ligeiro gesto afirmativo que ela fez, as palavras prontamente cessaram.

Era justamente de seus assuntos que sentia a maior falta. Os passos trôpegos do presente, as incertezas do futuro louco. Nao apenas dele. Dos outros também. Daqueles cuja vida é compartilhada há muito tempo. Cujas mazelas e exaltacoes sao comuns, "sao nossas" - gostava de pensar.

A filha da prima da tia que havia ido ao show de quem seja? Nao lhe importava. Queria saber o tangível. Nao por cartas ou notícias abstratas. Eram os abracos e conversas de fim de tarde que anseava. As filosofias de meio-fio, os cigarros furtivos, as noites de sexta-feira.
Ah... Sentia, por primeira vez, o gosto amargo do que sempre lhe pareceu doce.

Já desfrutava lágrimas como sorvete em dia caloroso.

Ao tragar a fumaca indiana, esquecia-se da chuva e do frio que entravam pela janela de sua alma. Se ganhava ou perdia tampouco lhe importava. Seguiria apostando todas suas fichas.
Nao deixaria seu samba morrer. Havia dancado sob a lua mais de uma vez, e um simples eclipse nao apagaria as memórias guardadas no mais precioso relicário.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O jeito mais fácil de desistir do vil frasco:

Arthur enviou em 19/12/2008 14:15:
as pessoas simplesmente vivem
Arthur enviou em 19/12/2008 14:15:
eu não entendo
***

E eu também não. Talvez eu nunca entenda... Mas não entender como dizia Lispector sempre vai ser mais vasto do que entender... e assim me perco mais uma vez na infinitude da minha ignorância. Perco-me para não dizer que me afogo, me desmancho na incompreensão mais profunda e abrangente. E plena. É imersa nessa plenitude que encontro consolo por não ser a única e por já não estar mais sozinha naquilo que nunca vai ter fim.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

"Lindíssimo!"

Alimentei-me de emoção e poesia sem fim por algunas horas. Ao ver aqueles olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados, senti a exaltação vindo do peito. Como criança, queria que não acabasse a fonte capaz de matar a sede. Tive vontade de levantar-me e entrar na dança. Tomá-la pelos braços, dançar com ela. Não pude fazê-lo. Ganhou a vontade de ficar e contemplar, à espera do fim, sem desejo algum de que terminara.
Respirei o perfume de rosas campestres sobre a pele suave. Provei a delícia do novo e o prazer do velho, nas terras que me separam desta terra amada, mãe de tão delicada composição.
Capitu foi capaz de despertar tudo. A ele e a mim. Voltei aos tempos de menino. Aos amores primeiros, à ingenuidade. O abraço apertado daquelas dúvidas tomaram o meu corpo de novo, e tampouco pude resistir. Me fiz de fraco para que a beleza me fortalecesse.
Suspiros são a música saída dos meus lábios. De sorrisos, componho a melodia.

"And it rips through the silence of our camp at night. And it rips through the silence, all that is left is all that I hide."

Simples homenagem ao grande mestre, à grande obra.
Obrigado, Assis.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O sonhar, de novo.

Tento despertar, mas sigo dormindo acordado, involucrado neste casulo de seda. Estou aqui, acumulando vontades de explodir em mil pedacinhos e alcançar cada esquina do mundo.
Agarra-me pelo coração a coragem de viver de Arte. Respirar, consumir, criar, transformar. No toque, no paladar e olfato. Em meus olhos e ouvidos, ser, em todos os sentidos, naturais e desconhecidos, pura e singela Arte.
Distância, proximidade, amadurecimento, México? Não importa a gêneses do não-torpor. O medo está indo embora de vez... De vez.

Quero subir a montanha que sempre esteve entre nós, Vida. Vou vencendo, aos poucos, todo moinho de vento. Montado em meu burro valente, acredite, toneladas de insegurança se desmancharão ao mero toque. Sim, e a chuva vai lavar nossos corpos sujos, nossos pecados rotos, acumulados e esquecidos no tempo.
Vencerei a montanha e respirarei o ar gélido da mudança. EU VENCI! - será meu grito de triunfo.
Vou segurar a bandeira que sempre foi minha, as lágrimas escorrendo por minha cansada face, limpando o suor, a terra, os galhos. No final, seremos todos um.

Já nao há medo de tomar o caminho errado e sofrer. Tropeçar nos erros é condição nossa, seguir lutando, condição minha. Que venham, pois, suas provocações infindáveis. Estou pronto, espada e escudo em mãos. As pedras no caminho agora são flores. As teias de aranha, algodão-doce. As árvores já não têm garras, não podem nos machucar. Sopra a brisa suave da montanha, deixada para trás. Caminhamos juntos, dançando como crianças, caçando borboletas, rindo de nossas aventuras.

Vemos e sentimos diferente. Voamos juntos sobre os inúmeros pontos de luz abaixo de nós. Belo, infinitamente belo, é você, mar. Voamos juntos entre on inúmeros pontos de luz ao nosso redor. Entre as estrelas, lhe digo: Bela, infinitamente bela, é você, Vida.