terça-feira, 17 de novembro de 2009

A um magnífico pensador

Fernando,

A felicidade me percorre e eu tenho que reparti-la com você. É um presente que quero te dar!
Eu sei, aniversários não são fáceis. Dia esquisito e afoito, o aniversário é uma pílula gorda que engolimos sem água. Trava a garganta, dá nó na alma. Perplexidade.

Você faz 20 anos hoje e se sente pequeno apesar de ter chegado em conclusões que homens que vão fazer 70 sequer poderão vislumbrar. É pesado viver, ter que se acostumar com o pouco das explicações disponíveis, você diz. Há dias em que o "não" prepondera. Não há paz, não há alegria, não há força, não há ânimo, não há propósito em continuar em um caminho de paus e pedras, não há hombridade, não, não e não.

Mas esses dias passam. Eles doem, são dias que machucam, rasgam a alma, nos dividindo em fragmentos absurdos. Pedaço de gente viramos. Mas passam. Passam levando um pouco da nossa inocência, da nossa infantilidade. Transcendemos. E não há limite pra isso. É um devir.

E era isso que eu gostaria de te dar hoje. Meu devir.

Hoje eu parei de amar o meu contrário: a perfeição. Enxergo com nitidez quem sou. Aqui está minha cara. Nem digo rosto. É cara e é cheia de buracos, futuras rugas, manchas e assimetrias. Mas eu não a temo. Não que eu tenha me acomodado, mas simplesmente, não a temo mais. Essa sou eu. Imperfeita. Envelheço, terei maiores marcas e sou indiferente ao fato de envelhecer.

Sabe, o fim é acalentador e nós precisamos percebê-lo. Eu começo, eu termino. Caso contrário, a megalomania vampiresca de uma mentira:"oh, nunca vamos morrer" dilaceraria o fato de que devemos ser os homens aqui, manejarmos a faca aqui, rasgarmos o celofane da idiotice e dos contos de fada aqui! Sejamos hábeis em sentir os minutos de vida, Fernando. Ao sentir, sabemos aproveitá-los e não deixamos a onda da pieguice levar nossa curiosidade.

Dê adeus ao tédio por mim! Há muito o que descobrir, há delírios que necessitam ser derrubados. Há lugares, há possibilidades! Sou eu que decido! E isso é tão grandioso que transpassa aquela dor mesquinha de se enxergar trucidada pelo absurdo de um mundo troglodita que pateticamente vangloria os que vão pelo caminho fácil.

Chega de temer o fracasso, a dor, o pavor e angústia. Se odiamos o caminho fácil e somos orgulhosos demais para nos habituarmos com a mediocridade, aceitemo-nos. Sou orgulhosa sim! Sou falha sim, e isso não é relevante, é? É como uma formiga se olhasse no espelho e dissesse: "Nossa, sou um hexápode, para que fui nascer assim? Eu queria tanto ser uma aranha, que lindos são os pedipalpos dela! Vida maldita!"

Digo assim, porque não há como a formiga virar aranha. Não há cirurgia. Não há mentira cabível que a faça acreditar nisso. Enganados, acreditamos que o mundo promete transformações mágicas. Oh, sua cara tem buraco? O mundo te dá outra se você quiser. E você passa a ser menos imperfeito.

Mas e aí? Tenho uma cara nova e... e nossa, a vida vai fazer mais sentido e eu vou compreender o porquê de haver tanto sofrimento concomitante há tanta felicidade? Vou? Eu, formiga, serei mais aranha?

Ah, não. Não é verdade. A violência escancara as janelas de nossa estabilidade, a injustiça permeia e quer saber... são todos humanos idiotas. E eu? Também idiota. E a idiotice salva e redime quando ela é percebida e lapidada. A cara cheia de buraco é minha. Eu sei que se eu mudá-la vou continuar tão imbecil quanto antes. Sei inclusive, que uns nascem com menos buracos... O fato mesmo é que não adianta desejar ser a impossibilidade.

A alegoria que te dei hoje é essa. Não podemos desejar a impossibilidade e não adianta amar o contrário de si. Não há melhora. Parece que ao enxergarmos a migalha que somos, revoltosamente, lutamos para sermos pão. Mas não é, porque dentro há a razão dizendo: migalha não vira pão! E a frustração vai reinar e acabar com toda nossas futuras vitórias!

Não deseje ser pão. Não deseje ser aranha. Não estou dizendo para se acomodar. Estou dizendo que não há nada ruim em ser quem somos. E que esplêndido isso, não?

O tempo todo a sociedade nos controla dizendo: "seu imperfeito! Você não é o primeiro lugar, você não tem aquele carro lindo, você não é o que deveria ser". E nós ficamos tristes, e ficamos passíveis. E dói tanto ser imperfeito. E dói tanto não ser o que eu deveria ser...

Viu o macabro? Outros escolhem "o que devemos ser". Alguém no mundo das formigas escolhe aleatoriamente um modelo: aranha. E propaga: felizes são as aranhas e infeliz é você, formiga. E a formiga, miserável, passa a odiar o que ela é para amar o impossível. E as consequências, são funestas. Ao negarmos quem somos, não temos a consciência do nosso "eu". Não vivemos. Passamos a projetar tudo na aranha. E não há transcendência, porque não há como alguém evoluir se ele fica preso na ideia de que ele é um eterno fracasso incapaz de acertar uma única vez.

Eu te dou minha reflexão de hoje, Fernando. Que essa felicidade faça sentido pra ti como faz pra mim. Não deixe Aristóteles te massacrar tanto. E não sofra da síndrome do "super-homem" de quem lê e compreende "O anticristo" de Nietzsche. Lute pelo hoje, pelos seus projetos e não pelos projetos que alguém escolheu pra você. Entre a imbecilidade da sociedade e a minha... eu prefiro a minha... pelo menos eu não saio processada e quadradinha como a maioria. Faço da minha vida, realmente a "minha" vida, minhas opções, meus ideais.



Abraços de sua amiga, aquela cheia de buraco.





segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Faltam 15 minutos para amanhã!
Ai que agonia!

domingo, 15 de novembro de 2009

In drugs we trust

Então a luta chega. E é.

sábado, 31 de outubro de 2009

Sarampo

Meus livros encomendados chegaram. Poucos, já lidos por alguém, mas meus.
Imagino por quais mãos eles passaram. Que dedos viraram suas páginas brancas e o caminho que esses percorreram até chegarem aqui.

Um veio com a citação de um dos poemas de TS Elliot. Então, que lindas as bolinhas azuis surgidas na minha alma quando percebi que reconheci o poema. Divido um pedaço do longo e lindo poema, pois é preciso. Aqueles homens purpúreos da esquina do meu cérebro me disseram para fazê-lo e aqui está:

OS HOMENS OCOS

"A penny for the Old Guy"

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!

(...)

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"No longer empty and frantic like a cat tied to a stick"

É ótimo poder sentir a noite caindo sobre minha cabeça, lambuzando meus olhos de frescor e de brilho. As estrelas, ultimamente, se transformaram em gigantes pérolas e eu já não me vejo só e rendida pelos meus pensamentos catastróficos. Não mais sigo caminhos. Vôo.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dancing days

Ó, flores, vamos dançar
Saiam do travesseiro e se juntem aos meus pés.

Inquietos, eles ensaiam passos desacordados
errados e trôpegos Danço assim
dança alegre

ridícula
dança sem fim

Ó, dia, vamos dançar

Saia da noite que te engole e se junte aos meus braços
Inquietos, eles desenham espirais no céu

Mágicos, eles descrevem cenas de filmes
cenas da vida

loucos, riscam e rabiscam papel

"Papel (...)
Eu te amo e tu me destróis,
Abraço-te e me rasgas,
Beijo-te, amo-te, detesto-te, preciso de ti, papel, papel, papel!"
Enlace meus dedos
corte minha pele
não me importo
danço contigo e bebo teu fel

sábado, 12 de setembro de 2009

Time won't matter

Ao precoce jornalista,

Que os dias venham assim... cheios de conversas e de sol. E que as notas púrpuras e musicais do coração não tragam o sono poético! Há muito ainda a se ver e conseguir. Que os elefantes ainda povoem seu caminho com suas trombas pacíficas e suas bocas sorridentes. Andemos e descansemos quando os quilômetros fatigados pedirem trégua de nossos pés.

Não nos importemos com aqueles que desistiram de seus sonhos, com aqueles que proclamam a existência da falsa "perda de tempo". Tempo não se perde, afinal... como perder algo que não nos pertence? Algo que não se guarda em caixas ou em gavetas?

Essas pessoas que tanto dizem sobre o tempo desperdiçado são iludidas... acham que as horas que passam são delas... as pobres mal sabem sobre a vasta verdade de que o tempo que nos possui... é ele quem esmaga quem tem pressa, é ele que passa... e sua rapidez não depende de nós.

Pressa... você já jogou essa coisa frenética fora e eu o imito. Não vamos perturbar nossos sonhos que dormem tranquilos no peito. Não queremos que eles fujam e nos despovoem, nos tornando pessoas vazias e desgostosas...

Cantemos assim as músicas de Beatles e toquemos nossas guitarras feitas do pó de nossas conquistas! Que seu sorriso seja uma infinitude, amigo, como o meu é agora...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A simples despedida

Aos grandes Muros repletos de ecos infantis,


Presídio de bola, corda, giz e quadro-negro, onde estão as crianças que correram seus chãos? Desaparecidos na vida, sei que devem seguir algum caminho. Mas meu coração explode ao pensar se todos conseguiram obter da realidade aqueles sonhos sem fim.

Lá vão pelo tempo adentro, essas vinte e oito crianças, malogradas ou afundadas em realização, Muros. Saíram pra sempre de seus domínios e foram pelo mundo de sal. Adivinho que vocês querem segui-las, prendê-las nos anos 90. Elas são mais bonitinhas assim. São pequenas, são delicadas, são suspiros intocáveis.

Mas não podemos prender o céu em uma gaiola. A infinitude do caminho de cada um destrói qualquer grade e fechadura. O melhor? É dizer adeus, pois não se pode prender a abstração da infância. Acenem a simples despedida. Anoiteçam esse passado azul e branco repleto de bonequinhos, de uma vez. E assim, se machuquem, Muros. Percam seus tijolos de imensidão, pois nenhuma dessas mãozinhas retorna por já lhe terem dado derradeiro "até nunca mais".

sábado, 15 de agosto de 2009

Conversas noturnas - monólogo 1


Marcella-colorida foi embora com um pedaço do meu arco-íris e agora tudo é cinza e entediante. Meus cigarros são meus dedos e eu os fumo assim: digitando. Quando o câncer da solidão vier por eu tanto fumar dedos... quando ele invadir, enegrecendo minha alma, não farei quimio, radioterapia. Engolirei as partes pretas e podres de mim, e nessa autofagia, nesse Oroboros, esperarei com um sorriso amargo aqueles dias prósperos que o aripiprazol prometeu.

Ou para evitar metáforas (como dizia Tiburi), esperarei o melhor dos reencontros.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Como não atingir o nirvana

A mulher do apartamento da frente está sempre à janela. A música que emana de lá revela o seu bom gosto, seu refinamento. Ela as escuta olhando pra cá, olhando pra rua. A imagem é quase de um clichê bonito. Falta-lhe o cigarro, preso aos dedos e aquele olhar arrogante que tanto denota solidão.

Desejo não ser como ela. Não quero ficar à janela, mesmo que seja poético. Não quero boas músicas. Refinamento? Para quê? Eu seria uma pessoa mais fácil, caso minhas melodias favoritas fossem as da moda. Eu seria bem mais tranquila, se minha alegria viesse com o próximo capítulo da novela das nove, oito, sete... Eu me daria trégua, caso eu começasse frases com "Are baba!" (ou o que for a ortografia dessa expressão que tanto me debilita).

Eu e minha televisão? Felicidade suprema. Eu e meu orkut? Um nirvana... Um nirvana que não faria meu self ser atingido, mas... a minha plena convicção de consciência de mim mesma seria estupenda. E assim, a vida fluiria em doce patetice, em sorriso e conversas recheadas de eternas frases feitas.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Para Francisco

Mal consigo sair. Sinto muito, amigo. Acho que me envolvi demais na ausência ampla e em lágrimas, que de tão salobras amargam meu sorriso. Ainda bem que eu não ligo para o gosto da alegria. Gostaria de tempo... me cederia algum?


Sei que você respirou ares coloridos, provou dos gostos mais intensos, tomou decisões, descobriu novas palavras e com elas... novos sentimentos. Aposto em um Francisco mais sólido, mais complexo, mais adulto. Quantas voltas sua alma já deu? Reflexões vieram, ondas quebraram em seus olhos, arrebentando a provincianidade goiana... Você? Um outro. O outro.

Mas tem o apesar. O apesar. Você ainda é aquele menino que se vestia de um bicho qualquer para alegrar aqueles no departamentos de oncologia de hospitais. Você é ainda alegre, um poeta, um amigo, um parceiro de fugas e de segredos. Isso não muda. Isso é seu e um pouco meu.
Meu, por estar aqui, atracado no meu peito. Uma pequena âncora-Francisco no infinito oceano que é meu coração.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A eloqüência dos fantasmas


Hoje, ele se foi. Abandonou sua casa, aquela que nunca fora seu lar. Despediu-se da mesinha de mogno, de sua calculadora científica e soltou minha mão. Atravessou a rua da infinitude - os passos são poucos para que a delicadeza da existência se desfaça em mil cacos purpúreos.

Ele deixou poucas roupas em um guarda-roupa carcomido por cupins invisíveis. Eu sei, R., eu sempre soube que esses cupins não comiam somente a madeira. Sempre os percebi perfurando tua alma também. Eles digeriam tua pureza e tua elegância... invejosos sim. Mas esperar menos mesquinhez de cupins seria como esperar chuva de confetes dourados e sorrisos que durem para sempre...

Tu te foste, meu grande amigo. Deixou-me só a companhia da lembrança de tuas palavras, de teu humor típico, de tua capacidade de abstrair da vida uma seriedade e pensamentos tão ímpares , tão superiores à unanimidade burra. Ensinaste-me, esperaste que a lição ficasse fixa em mim e deste aquele aceno perpétuo. Aceno que eu não aceito, não quero aceitar.

Os cupins já não são os mesmos, R. E eu, estou com eles, nessa sensação de nunca mais poder respirar a menina que eu era. Nem meus sapatos me cabem. São pequenos demais para meus pés que tanto cresceram por caminharem demais em reflexões que pudessem me trazer algum conforto... algum alento que pudesse amaciar a dureza excruciante da tua ausência. "Eu deixo a vida como quem deixa o tédio", foi assim R?

Deixaste a patetice de acordar cedo e dormir tarde com a sensação inócua de que nada valera. Sensação que pesa o travesseiro e o transforma em pedra para uma cabeça tão grave, tão exausta e insatisfeita. Não vale tanto suplício, eu sei. Mas as pílulas que me dão, anestesiam essa vontade louca de escapar dos grilhões do ter que pertencer ao grupo dos quadrados quando se é uma bolinha. Por que não quiseste tomá-las também? Era ridículo demais para ti?

E o que eu levo disso tudo? Disso tudo que chamam de luto, disso tudo que chamam de dor intermitente? Cicatrizes, lembranças, notas musicais dispersas encravadas no peito? Levo orgulho por te ter conhecido? Honra de ser pra mim aquele bilhete encontrado no teu bolso?
"Espero que tu nunca me entendas, porque então estarás tão desesperada quanto eu"?

R., teu epitáfio fica embebido da minha angústia. Compreendo, teu tempo passou, nossas horas, no entanto, ficam. E a minha mão, volta a se enlaçar com mais força na tua.
Que descanses em paz, amigo!

sábado, 11 de julho de 2009

My "post secret" moment:


I'm afraid that my psychiatry won't continue prescribing me my usual black lable meds.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Melodies and desires

Então, ele apareceu. Não brotou do asfalto, como a flor que eu queria, mas veio. Veio dentro de uma sala cinzenta com tijolos amarelos repletos de dor, sala abstrata, impalpável. Embrulhado em sorrisos, comentários elegantes, ele me fez perceber que nossas mãos não precisam se entrelaçar, para estarmos unidos. Nossas almas já entraram em simbiose há tanto... que nem mais sei qual parte de mim segue comigo e qual parte minha vai com ele.

Eu, cética... abandonada em mim, consegui encontrar o amor puro. Aquele, que enleva, faz a alma descansar no perfume mais acalentador e faz os olhos repousarem nas palavras mais exatas. Sim, ele mais escreve do que diz, e isso é absurdamente mais delirante para meus ouvidos do que a genialidade de Vivaldi.

Meus sorrisos, causados por ele,
me transfiguram a cara. As gargalhadas, vindas da profundidade da minha garganta, maculam o ar e abusam dos tímpanos dos outros (bluh, bluh, bluh)... mas quer saber, a felicidade é assim mesmo: deformante.


domingo, 5 de julho de 2009




If Misery is a butterfly... I wonder where is the frog to eat it.

I need a fix 'cause I'm goin' down, down to the bits that I left up town. I need a fix 'cause I'm goin' down.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O que nasceu aqui, jamais vai morrer.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

sugarless, cancerous

é que eu estou existindo só por cinco horas... e às vezes, bem menos.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Que elas falem por mim...

É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Quem reparou na lua?
A vida sempre continua
E eu não me canso de olhar...

Vida louca. Vida breve. Vida imensa.

Quando tá escuro, e ninguém te ouve
Quando chega a noite

E você pode chorar
Há uma luz no túnel dos desesperados
Há um cais no porto pra quem precisa chegar
E são tantas marcas que já fazem parte
Do que eu sou agora.

Eu sou um cara cansado de correr na direção contrária
Mas o tempo, ah! o tempo não pára!

Não dá pé, não tem pé nem cabeça
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça
Não tem jeito mesmo.

Eu só sei que amei, que amei, que amei...

Ando tão à flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de nem sei
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final.

É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais.

E mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora
Tanto faz
Estamos indo de volta pra casa.

domingo, 10 de maio de 2009

então, foi mais ou menos assim: a menina sentou na poltrona e descobriu estar doente. descobriu não ser uma pessoa e sim a personificação de sintomas e da ausência de humanidade...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A minha flor no asfalto

24 dias. Estou morrendo de medo, amigos.

Da despedida, dos tantos abraços que já comecei a dar e que doem. Doem tanto. Doem demais. Como pontadas, lágrimas de tristeza, não sei. É difícil demais. É difícil até dizer, expressar em palavras a intensidade dos sentimentos, a grandeza das emoções, dos momentos, o estado do meu coração.

Se já era intenso, agora é mais, muito, muito mais. Luto com a saudade não desejada. Não quero senti-la, mas já começou. Já começou, já está aqui impregnada dentro de mim e ainda nem fui embora. Estou desesperado.

Ah amigos! Quisera que me entendessem. Ao pisar meus pés outra vez nesse país tão novo, encontrar alguém capaz de acolher as lágrimas com compreensão. E não deixar morrer o que nasceu aqui. Nem esquecer os suspiros, os sonhos. Poder enxergar com olhos sábios a felicidade e a tristeza. Comparti-las e desfiá-las sem medo. Mas temo. Temo afundar-me na solidão do quarto escuro e do travesseiro frio. Os urubus imóveis nos telhados. Temo os julgamentos, as diferenças. Temo sofrer.

Sim, estou diferente. Extremamente diferente. Sou outro, doa sabê-lo ou não. Mas também sou o mesmo. Cresci, aprendi, experimentei, chorei e ri. Cansei-me, desejei mais. Descobri a liberdade e vivi! Ah, vivi tanto!

Vivi uma vida antes. E agora? Agora começo a viver a de depois.

terça-feira, 21 de abril de 2009

eu queria dizer sobre como me sinto, ou como meus dias estão, ou algo que valha ser lido. mas escrever seria admitir verdades pesadas demais. admitir pra mim e além de tudo, compartilhá-las com pessoas que ainda vivem.

por isso, calo-me por enquanto. estou esperando essas ondas pararem de se quebrar em meu coração.

mas... eu ainda caminho olhando para o asfalto... uma flor vai aparecer. tem que aparecer.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Montanha-russa

A hora do adeus vem chegando derradeira, como a primavera. Nessas horas, o coração se aperta e fica pequenininho. Os olhos miram o nada, mesmo sem a presença de uma paixão arrebatadora. É estranho. Os pensamentos brincam de amarelinha, indo e vindo, incessantes. Os minutos tornam-se mais longos e mais curtos (geralmente mais curtos) e sua cabeça – relutante em quedar-se aí – começa a tirar centenas e centenas de fotos. Os livros e o som e os balões sobre a estante do quarto, a bandeira no alto da montanha, as montanhas agora secas, sorrisos, olhos, sala de aula... Como se acabasse de chegar, neste exato instante, ver pela janela do carro é algo novo. O que já era velho de repente apaga-se do seu cérebro.

Pequenos fatos passam em câmera lenta e dá medo voltar ou passar para frente a sua história. Aí, no meio da escada, continuar subindo é difícil e penoso. É que quando se olha para baixo, a vontade de viver de novo é tão... inevitável! E devo suspeitar, impossível, amigos.

Você se encolhe e recolhe lembranças como conchas na praia. São tantas! Depois de tê-las o que fazer com elas? Já sei! Colocar-rápido-na-"caixinha-estúpida-peito"-fechar-com-sete-chaves-e... Tentar respirar?

É... Eu só sei que nada sei e não saber me mantém flutuando no ar, sem gravidade, sem pés no chão. Também dá medo, claro, mas... é bom.

Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

(Cantiga - Manuel Bandeira)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Um poema, um sorriso... um espelho

Achei este poema em um dos meus blogs favoritos. Sei que quando você for ler, vai se ver nele também...

First Love - Charles Bukowski


At one time
when I was 16
a few writers gave me
my only hope and
chance.

my father disliked
books and
my mother disliked
books (because my father
disliked books)
especially those I brought back
from the library:
D.H. Lawrence
Dostoevsky
Turgenev
Gorky
A. Huxley
Sinclair Lewis
others.

I had my own bedroom
but at 8 p.m.
we were all supposed to go to sleep:
“Early to bed and early to rise
makes a man healthy, wealthy and wise,”
my father would say.

“LIGHTS OUT!” he would shout.

then I would take the bed lamp
place it under the covers
and with the heat and hidden light
I would continue to read:
Ibsen
Shakespeare
Chekov
Jeffers
Thurber
Conrad Aiken
others.

they gave me a chance and some hope
in a place of no chance
no hope, no feeling.

I worked for it.
it got hot under the covers.
sometimes the sheets would begin to smoke
then I’d switch the lamp off,
hold it outside to
cool off.

without those books
I’m not quite sure
how I would have turned
out:
raving; the
murderer of the father;
idiocy;
hopelessness.

when my father shouted
“LIGHTS OUT!”
I’m sure he feared
the well-written word
immortalized
forever
in our best and
most interesting
literature.

and it was there
for me
close to me
under the covers
more woman than woman
more man than man.

I had it all
and
I took it.



sexta-feira, 20 de março de 2009

wave good bye and save a smile

eu? gostaria de abraçar o mundo... só pra ter a certeza de que você está bem. isso me bastaria, mesmo eu estando em um estado amargo de não contentação com absolutamente nada. eu, eu, eu... eu e desejos, e espera, e noites.

o vento passa pela janela e há folhas que me esperam sobre a mesa. há sonhos enovelados aqui no coração... há vontade de entender a condição humana e seus entralaçamentos com a fisiologia. há vontade de beber oceanos, de percorrer locais, visitar todos estados do Brasil e países. países que de tão ideais parecem não existir...

e fico imaginando meu sorriso, meu rosto, meus olhos. fico imaginando a segurança, como um estágio. como um algo a se atingir, como epifania, como um divisor de águas, como um transformador físico de mim - mero traste que fica andando por aí, reclamando do impalpável...

ah... mas tudo isso me vêm em crises febris de fim de ligações. eu gostaria mesmo era de abarcar o universo e ter a certeza de que você está bem... mesmo que tão distante de mim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Intento

"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado. Mas quando voltou a ver do convés do navio o promontório branco do bairro colonial, os urubus imóveis nos telhados, a roupa dos pobres estendida a secar nas sacadas, compreendeu até que ponto tinha sido uma vítima fácil das burlas caritativas da saudade."

(Gabriel Garcia Márquez)

segunda-feira, 16 de março de 2009

O doce do amargo

A dor das palavras nem sempre é reflexo da alma.
Por que, então, correr as linhas falando sobre olhos fechados e pés frios? Assim escutei uma vez... "é mister sofrer para se saber o que no peito o coração não quer dizer."
Ser feliz é mais que estampar sorrisos na cara o tempo todo. É, no encontro de dois rios tão turbulentos, encontrar paz. Acompanhada de lágrimas salgadas ou embalada por um samba de esquina. O traje não importa, quando no redemoinho que é a vida se é capaz de encontrá-la.
Fome, miséria, abandono por hora não compõem as fotografias sépia do meu álbum invisível. E sou grato, tento ser. Mas sim, existem pedras na estrada. Sem raízes atando-as ao chão, eu sei, mas aí estão. E por poder, como menino jogo com elas. Descanso sobre sua superfície dura. Umas horas, alguns dias. Retiro-as do caminho, sozinho ou acompanhado. Apenas desvio-me, chuto, recolho, converso, torno-me amigo, inimigo, choro, grito, rio, perco o controle, ah! faço inúmeras coisas!
Não ficam aí todo o sempre, embora os tropeços responsáveis pela descoberta necessária sejam inevitáveis e de um gostoso amargo doce. Ou doce amargo.
Ser feliz é mais que estampar sorrisos na cara o tempo todo. É, ainda que doa, perder o fôlego pelo simples prazer de ver mais fundo. Entregar-se ao risco de sofrer pelo êxtase escondido entre o sim e o não. Brindar com a tristeza e dizer-lhe sem medo: dança comigo?
A felicidade é um mistério. Num mundo de emoções sem-fim, não importa a forma, a porção, o motivo, o lugar. Importa abrir os olhos e os braços.
As luzes apagam-se, os sons emudecem-se. Só existe você e ela. Se a magia do momento durará uma vida ou um suspiro, é só mais um "se" que desaparece.
O abraço será sua única razão, imerso em melancolia ou em orgasmos de alegria.

terça-feira, 10 de março de 2009

As facetas

Aquela prisão lhe estava sufocando. Não havia grades nem paredes cinza, mas sentia-se claustrofóbico ali. O ar entrava rasgando, machucando suas traquéias, como o primeiro respirar depois do quase afogamento.
Estava só. Mais solitário que aquela canção, e não chegaria nenhum telegrama. Estava sozinho. Não queria beijar uma parede que fosse, nem dar bom-dias. Preferia a noite sedutora, batom vermelho, vestido negro e perfume francês. Ela dava-lhe os abraços mais cálidos e esperados. Os beijos únicos e os suspiros de depois. Perder-se em seus braços, isso sim, era sentir-se bem. Desejava que as lágrimas se tornassem loucura de uma vez por todas. Que viesse a chuva, ou tudo, mas que fosse de uma vez por todas. Estava assim, parado no meio de uma piscina vazia, esperando, esperando impaciente os mil litros de água que o banhariam.
Não precisava ser tão complicado, sabia. Mas a alma inquieta, o coração sempre batendo mais acelerado não lhe davam escolha. Com sorrisos falsos maquiava-se para suportar os dias e o sol. Com freqüência dizia anedotas, enquanto em preto-e-branco projetava a realidade noir de seu filme B. Se gostava de fingir ou não, mistério. Mas o fazia. Sem saber se bem.
Sofria da eterna falta do que falar. Em cada passo os assuntos pobres enchiam sua própria caixa vazia. Mas ele a havia esvaziado. Sacado tudo para sentir-se leve e vazio. Dos poucos amigos, agora tinha um a menos. E a lágrima, não transformada em loucura, descia sobre a pele escura. A tristeza era senhora.

domingo, 1 de março de 2009

Do not cry in public

Não consigo comentar os posts que me tocam, não consigo visitar os blogs que me agradam e me fazem sorrir. Não consigo sorrir. E interagir com as pessoas é doloroso demais para suportar. Não... não é sobre isso que você acha que é. Talvez seja pior. Não suporto ninguém por não suportar a mim mesma... E então lágrimas...

Lágrimas que me vêm sem muita razão. É, eu sei para onde estou indo. Sei o quanto a estrada é escura e hostil. Mas não consigo controlar os pés dos meus sentimentos. E eu já estou lá, imersa em tudo isso que se desmancha... e que se desvale. Oi, bom dia! Como foi seu fim de semana? E lá dentro de mim eu canto:


Anyway, I can try
Anything it's the same circle
That leads to nowhere and I'm tired now.

Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.

Só me resta, então, sentir esse amargo na boca, esse nó na garganta... Costumava me afetar. Não, não é isso que você está pensando, repito. Não é! Não é simples, não é uma questão de tempo, não é divertido e deixou de ser poético há três anos. E aí, estudando muito? A música volta a se cantar, nem sou eu mais que a entôo.

No concentration,
Just a white disorder
Everywhere around me,
You know I'm so tired now.

Mas sim, estudo... como se isso fosse diminuir o que acontece dentro de mim. E quer saber? Eu nem devia estar sendo sincera, não deveria sair dizendo coisa alguma... Guardar a dor em bloquinhos azuis dentro da gaveta bastava. Mas de alguma forma, dizer com os dedos torna tudo mais brando. E eu tento não ter nada para guardar. Tento sair de mim.

Sometimes I open the windows
And listen people walking in the down streets.
There is a life out there.

Sair do que se é, de como se está. Permanente, temporário. Contrários que se tornam sinônimos. Maquininha de água salobra, são meus olhos. Ah, mas a minha gaveta ainda tem um pouco de sopa de riso de rinoceronte. Posso ir me agüentando assim. E se o estoque de sopa acabar, meus amigos vêm deixar um pouco mais de comida para as feridas.

But don't worry
I often go to dinners and parties
With some old friends who care for me,
Take me back home and stay.

E isso me basta.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Assim

Te regalo mi cintura,
Y mis labios para cuando quieras besar,
Te regalo mi locura,
Y las pocas neuronas que quedan ya.

Mis zapatos destenidos,
El diario en el que escribo,
Te doy hasta mis suspiros,
Pero no te vayas más.

Porque eres tú mi sol,
La fé con que vivo,
La potencia de mi voz,
Los pies con que camino,
Eres tú, amor, mis ganas de reír,
El adiós que no sabré decir,
Porque nunca podré vivir
Sin tí.

Si algún día decidieras,
Alejarte nuevamente de aquí,
Cerraría cada puerta para que nunca pudieras salir.

Te regalo mis silencios,
Te regalo mi nariz,
Yo te doy hasta mis huesos,
Pero quédate aquí.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Outra vez sinto os grãos de areia machucando o meu rosto. Mais queria perder-me nesse deserto imenso. Deixar que os ventos me tragassem e me diminuíssem ao pó que tantas vezes desejei ser. O sol poderia queimar minha pele e se todo o meu corpo derretesse, não me importaria. Apesar dele, sinto pesar. Sinto frio.
Você já sabe que nem sempre danço feliz, amigo. Às vezes os braços movem-se tristes e lentos. Falta força e impulso nas pernas, os joelhos fraquejam. A paixão que brilha intensa nos olhos de Billy torna-se opaca nos meus. Aquela máscara que te falei há pouco, lembra-se? Nem sempre consigo mantê-la em minha cara. E mesmo dando saltos altíssimos, sinto-me, constantemente, amarrado ao chão. Por quê? Sou tão tolo e fraco.
Quero e preciso deixar-me levar pela maré. Eu já sei... Mas estou cansado e não consigo descansar.

I am pilling up some unread books under my bed
And I really think I'll never read again.



E a vida continua... alheia a mim mesma.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

12/02/2007

O outono escorria, lento, plácido e pegajoso. O sol invadia o quarto com seus raios absurdos, radioativos e tão cortantes, tão vacilantes... Talvez não quisessem carregar os objetos fosforescentes do quarto... talvez, se negassem em penetrar os objetos fosforescentes do meu coração. Às vezes, acontece do astro não querer compartilhar seu brilho, às vezes, ele só quer mergulhar em egoísmo e se esquecer, se perder.

O garoto do cubículo chora por dentro sorrindo por fora. Ele não reluz, não aparece... É um total em sua nulidade alva refletora e por isso, olha. Olha o brilho que vai sendo chupado pelo interruptor. Brilho que nunca absorverá por causa de sua insossa brancura infeliz...

Vazio. Oquidão por fora. Nêutrons, elétrons fora deles, envolvendo-os, abraçando-os. A eletrosfera não é um lugar, é um carinho...

Ele, tão grande, os átomos tão pequenos... Até a miniatura ínfima tem companhia, como a imensidão não tinha? Como podia? Como sustentar essa condição agonizante de ser só?

Paredes, cubo, prisão. E a liberdade nem nascida, gritava nêurula ainda: "Não me aborte!"... Sua garganta colabada, envolta em arame farpado, mal podia dizer alguma palavra de consolação àquele embrião da dor que nascia dentro de si.

O tempo, bolinho azul feito de gargalhadas cínicas, se compadece e lhe dá uma idéia. A boca seca do menino procura a superfície acimentada, se encontra nela e feliz se abandona no tão procurado alento...

Até tijolos amam.

***


Esse foi um texto qualquer feito quando eu ainda tinha 16 anos... Por mais imaturo que seja minha visão do mundo na época, me fez cosquinha na alma, ao reescrevê-lo aqui.
Ando procurando em mim essa menina bobinha que achava a solidão algo profundamente poético e nem um pouco perturbador.

Os dias? Andam pálidos... mas pelo menos ainda são dias.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Protagonista

Zapping. Os dedos nao cansam. Vao mudando de canal, insatisfeitos, insasiáveis. Um, dois, três. Detêm-se rapidamente ali. Nao, melhor outro. Este? Sim, esse. Ufa! Cinco minutos ou algumas horas de entretenimento.

Assim está tudo. Intenso e passageiro. Talvez em dimensoes ainda maiores - cada canal, um dia. Altos e baixos, preciosidades e coisas descartáveis. Exatamente como na tv.

Tento deixar no filme de final feliz. Aquele cuja história, apesar de às vezes parecer demasiado sofrida, emociona da primeira à última fileira do cinema. Aquele que tem acao, romance, drama, comédia. Um toque cult-alternativo, o filme perfeito. Tento, porque tal obra provavelmente nem exista.

Mas tento. E apesar de nem sempre ser capaz de juntar tudo, vivo cada fragmento, nao apenas os assisto. Depois, quando olhe para trás e veja as tantas tomadas, eu mesmo farei a edicao e conseguirei o que agora nao posso fazer: ver o todo com clareza.

É que minha mente anda em outra(s) estacao(oes) e sao muitas decisoes influindo na capacidade de raciocínio lógico. Nem tudo sao flores, minha grama nao é mais verde que a sua... Só que já nao me preocupo.

Estou leve e ultimamente nem o principal vilao da minha vida, o futuro, tem conseguido tirar-me a paz. Das duas máscaras teatrais, escolhi a que sorri.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ah... chega de se lamentar!

"We must embrace pain and burn it as fuel for our journey. ~Kenji Miyazawa"

E como diria um blog que eu amava muito, mas morreu... Chega de usar "falta de assunto" como desculpa para não escrever aqui... a verdade é que a falta de talento sempre pesa mais.

Lamentos de novo. Mas é que a vontade de socar o nada está martirizando minha alma... de novo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um pássaro e um girassol

O que ele sentia era a leveza do alívio, do fim da busca. Aquela que martelava uma, duas, três vezes o lugar mais reservado de seu cérebro. A busca dos porquês, agora entendidos, ia desfazendo-se pouco a pouco, como o castelo de areia ao abraco de cada nova onda que chegava ao seu coracao, ambos a ritmos perfeitos.

Pensava nao existir sentimento mais gostoso que esse. Era como depois de dias amarrado em um texto, imóvel pela oqüidao do incerto, conseguir pôr, enfim, o ponto-final. Dar o anseado grand-finalle à sua obra-mestre. Soltar o suspiro desesperado da satisfacao, inalando e expirando o ar da conquista, um pálido sorriso estampado na cara. Usava essa comparacao para desenhar (em garranchos!) o estado em que encontrava-se: leve, mais leve que tudo!

Nada de pesos machucando-lhe as costas, abrindo feridas impossíveis de cicatrizar-se sozinhas. Já nao havia bolas de ferro atarracadas aos seus pés. Caminhava escolhendo seus caminhos, mas agora era diferente. Nao andava às cegas, tateando, a tropecos, o nada. Nao, havia encontrado um guia, conhecedor do mundo, do homem, da natureza, do universo. Mostrava-lhe o caminho, mas era decisao sua obedecê-lo ou nao. E por isso queria gritar o mais alto que pudesse. Porque era livre.

A cada movimento, invadia, insistente, uma vontade de sair gritando aos quatro cantos da terra que estava livre do medo. Oh, o medo e sua maquiagem horrenda, sua vozinha insuportável e mesquinha, suas maos afincadas aos fios de sua camiseta, puxando-o, sempre, sempre, sempre para trás. Os pesadelos chegavam ao fim.

Era um dos pesos que o machucavam e nao iriam fazê-lo mais. As lágrimas de dor nao lhe deixava ver que chorar de alegria é infinitas vezes melhor do que chorar de tristeza.

Agora, depois de escutar tanto, queria viver aquilo, toda a explosao de amor e certeza que, a duras penas, havia entendido. Sabia que nao seria fácil, mas em breve, como na brincadeira, iria passar de mao em mao o anel. Passaria - ocultado pelo véu do tempo para ele desconhecido - ao par de maos cuja pulsacao transcendesse o natural. A vibracao de dois coracoes pulsando juntos, desejando o mesmo, era o sinal para num impulso, rapidíssimo, deixar rolar entre os vinte dedos o anel... O anel, há tao pouco grande ou pequeno demais para si, e agora de encaixe simplesmente perfeito.

Era incrível demais. Compreendê-lo estava fora de seus planos. Ou dentro, mas de forma diferente. Tudo agora seria diferente. Ele já nao sabia nada. Mas estava feliz. Feliz.

Fôlego no meio do breu

Voltarei. Percorrerei quilômetros pairando sobre nuvens fofas e esvaziadas de dor. Sim. Mesmo que com o dedo sangrando, um murro de elevador na boca, mas retorno inteira. Não há mais cansaço e o silêncio principia do seu fim.
Peço perdão pela simplicidade de hoje. Mas a noite já envolve meus olhos. Minha pele já pede o carinho do travesseiro e o consolo dos abraços de mãe. Já não sou estranha a mim mesma e isso me faz ter calma, ter paciência, compreender.
Tenho palavras a destilar. Tenho que agradecer a todos vocês que nos visitam de todas partes do país e do mundo. É uma alegria mesmo a enfeitar meus dias ao saber da sua existência. Vou ficar piegas agora e muito comum... Mas é que a universalidade dos meus sentimentos são maiores do que a minha vontade de possuir uma esnobe refinação emocional. Então, digo. Grito meu obrigada-cafona aos blogs-amigos e aos cometários que tanto me fizeram sorrir.
Escrever aqui é simplesmente maravilhoso! Franchos, nem sabe o tanto que essa amizade, essa parceria me engrandece. Sou um ponto de luz agora no meio desse calor, dessa escuridão. Estou aqui, no meio dessas cabeças voltadas para a televisão tão dura, tão alheia...
Ainda pode ser meio, porém logo me moverei e chegarei. Volto, e não importa as lágrimas que passaram, a solidão que tanto me deixou cheia de hematomas. Sempre há gelo, não é? E virão as mãos que se enlaçam, amigos que retornam, sucos a beber e canecas que pousam em cima da mesa.
O silêncio esmorece agora. e daqui a pouco... respiro!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Fico com Vinícius

"Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca. Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade. "
(Martha Medeiros!)


As coincidências são como um tapa inesperado tomado na cara. Os olhos ficam como pratos, a respiração falha e a cabeça transforma-se num redemoinho, que só sabe girar e devastar o que era certeza, sem interpretar os motivos.

Quando li o seu e-mail, Psiquê, tive um déjà vu. Eu, buscando no blog como estava em dezembro do ano passado, o que havia escrito, uma resposta para uma pergunta que não deixava de gritar dentro de mim: havia eu mudado tanto?

No 1º dia de 2008 dizia que podiam apostar em mim. Ah... Disseram que apostavam até duas fichas! Sim, o estado de ânimo era outro. Mas ainda falava dele, do destino. E um ano depois, ainda não acredito ser ele o responsável por elas, essas coincidências. É algo mais forte, capaz de provocar reações, descobertas, mudanças que são simplesmente inimagináveis, inacreditáveis.

Não sei se o que sinto é vergonha ou decepção por às vezes deixar a fraqueza ser senhora. Ou se as duas coisas, ou se só estou vazio, como uma “caixinha estúpida”. Ali, nas últimas horas daquele ano que havia sido tão... catártico, nas águas do Oceano Pacífico, o vento quente acariciando minha face, aquelas palavras que você me disse, lidas havia tão pouco tempo, vieram à minha mente: “Prometi arriscar... É hora de fazer algo, de parar de simplesmente esperar acontecer, como se tudo fosse virar realidade num passe de mágica... E que venham os medos, as frustrações e decepções. Se não estiver preparado, aprenderei com os erros. Realmente acredito que quando lutamos verdadeiramente pelo que queremos, nós alcançamos."

A realidade agora é outra. Como eu, você, como nossa vida. Não é de se espantar. Mas de repente sinto encher-se de alegria, tão veloz como um cometa, aquela caixa vazia. Por quê? Por poder dizer que, depois de tudo, as convicções não! Ah, as convicções não mudaram! Não mudaram...
...depois de tantas experiências. De tantos sorrisos compartilhados. Das doloridas lágrimas derramadas em companhia apenas do travesseiro, tão sós... Depois das vitórias, das derrotas. De subitamente ser capaz de voar e no outro dia sentir-se como árvore, preso a minhas raízes. De receber aprovações e já no finalzinho, o sol quase indo embora, reprovações atrás de reprovações... Depois de conhecer outra terra, de amá-la e abraçá-la. E logo querer desesperadamente voltar. E ficar, e ir, e ficar...

Depois de tanto, as convicções não mudaram.

Suspiro aliviado.

Aqui estou. Forte, cheio de esperança. Os vales são inevitáveis em mim. Mas não vivo neles, são passageiros. Enquanto permito-me estar lá, choro, soluço, desisto. Olho pra trás, sou paralisado pelo medo. Até que saio, inúmeras vezes cegado pela beleza do sol, da vida. Aprendo, e volto a acreditar.

Sou outro - e o mesmo. Nadando contra a maré em busca dos sonhos, vivendo a magia de vê-los tão distantes e tão próximos.
Apesar da freqüência em que vejo a lata de tinta caindo sobre a cabeça, as risadas de deboche, os dedos apontando - nada, nada disso me importa. Posso ser ou soar tolo, mas respondo tocando a gaita e dançando sob o doce olhar da felicidade. Os braços estirados, os músculos relaxados, nas pontas dos pés, para ver além.

É reconfortante saber que pude despertar em alguém o desejo de crescer, de lutar e de vencer.

O obrigado que faltava. Por viver, por chegar até aqui. Obrigado!

E para começar o ano de dois mil e novo, o poema primeiro, Rhode, cuja beleza preencheu cada espaço de nosso ser naquele ano.


Os acrobatas

Subamos!

Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

Vinícius de Moraes