quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

12/02/2007

O outono escorria, lento, plácido e pegajoso. O sol invadia o quarto com seus raios absurdos, radioativos e tão cortantes, tão vacilantes... Talvez não quisessem carregar os objetos fosforescentes do quarto... talvez, se negassem em penetrar os objetos fosforescentes do meu coração. Às vezes, acontece do astro não querer compartilhar seu brilho, às vezes, ele só quer mergulhar em egoísmo e se esquecer, se perder.

O garoto do cubículo chora por dentro sorrindo por fora. Ele não reluz, não aparece... É um total em sua nulidade alva refletora e por isso, olha. Olha o brilho que vai sendo chupado pelo interruptor. Brilho que nunca absorverá por causa de sua insossa brancura infeliz...

Vazio. Oquidão por fora. Nêutrons, elétrons fora deles, envolvendo-os, abraçando-os. A eletrosfera não é um lugar, é um carinho...

Ele, tão grande, os átomos tão pequenos... Até a miniatura ínfima tem companhia, como a imensidão não tinha? Como podia? Como sustentar essa condição agonizante de ser só?

Paredes, cubo, prisão. E a liberdade nem nascida, gritava nêurula ainda: "Não me aborte!"... Sua garganta colabada, envolta em arame farpado, mal podia dizer alguma palavra de consolação àquele embrião da dor que nascia dentro de si.

O tempo, bolinho azul feito de gargalhadas cínicas, se compadece e lhe dá uma idéia. A boca seca do menino procura a superfície acimentada, se encontra nela e feliz se abandona no tão procurado alento...

Até tijolos amam.

***


Esse foi um texto qualquer feito quando eu ainda tinha 16 anos... Por mais imaturo que seja minha visão do mundo na época, me fez cosquinha na alma, ao reescrevê-lo aqui.
Ando procurando em mim essa menina bobinha que achava a solidão algo profundamente poético e nem um pouco perturbador.

Os dias? Andam pálidos... mas pelo menos ainda são dias.

3 comentários:

arthur melo disse...

Rodayne! Que texto lindo, mesmo sendo um pouco triste... A solidão tem mesmo sua poesia, sua mágica até... pensava em escrever alguma coisa interessante aqui mas ainda tenho que pensar a respeito xD

Talvez a 'menina bobinha' tenha amadurecido e percebido que a solidão não é o melhor caminho... E que você não precisa estar mais só...

Às vezes a solidão é um caminho sedutor para mim, mas procuro pensar que os momentos só servem para eu poder me encontrar mais, e ser melhor e mais inteiro nessa arte viver, e poder ser uma boa companhia para os que querem partilhar um pouco de seu ser comigo... =)

Olha que texto legal do Neruda eu encontrei! Ele fala tudo...

Abraços! Mil deles...!

"O pensamento tem poder infinito. Ele mexe com o destino, acompanha a sua vontade. Ao esperar o melhor, você cria uma expectativa positiva que detona o processo de vitória. Ser otimista é ser perseverante, é ter uma fé inabalável e uma certeza sem limites de que tudo vai dar certo. Ao nascer o sentimento de entusiasmo, o universo aplaude tal iniciativa e conspira a seu favor, colocando-o a serviço da humanidade.

Você é quem escreve a história de sua vida - ao optar pelas atitudes construtivas - você cresce como ser humano e filho dileto de DEUS. Positivo atrai positivo. Alegria chama alegria. Ao exalar esse estado otimista, nossa consciência desperta energias vitais que vão trbalhar na direção de suas metas. Seja incansavelmente otimista. Faz bem para o corpo, para a mente e para a alma. É humano e natural viver aflições, só não é inteligente conviver com elas por muito tempo. Seja mais paciente consigo mesmo, saiba entender suas limitações. Sem esforço não existe vitória. Ao escolher com sabedoria viver sua vida com otimismo, seu coração sorri, seus olhos brilham e a humanidade agradece por você existir."

Francisco Filho disse...

Eu me lembro bem do menino que beijou a parede.

Lupe Leal disse...

E eu me lembro de "uma colher que esvasiava pratos em minh'alma". nada muda dentro de nós, você ainda é aquela que "não se casou com Dostoiévski" e eu sou aquele que ainda se encanta muito com tudo isso que vc põe aqui.

viver se desenrola.

até mais,