sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um pássaro e um girassol

O que ele sentia era a leveza do alívio, do fim da busca. Aquela que martelava uma, duas, três vezes o lugar mais reservado de seu cérebro. A busca dos porquês, agora entendidos, ia desfazendo-se pouco a pouco, como o castelo de areia ao abraco de cada nova onda que chegava ao seu coracao, ambos a ritmos perfeitos.

Pensava nao existir sentimento mais gostoso que esse. Era como depois de dias amarrado em um texto, imóvel pela oqüidao do incerto, conseguir pôr, enfim, o ponto-final. Dar o anseado grand-finalle à sua obra-mestre. Soltar o suspiro desesperado da satisfacao, inalando e expirando o ar da conquista, um pálido sorriso estampado na cara. Usava essa comparacao para desenhar (em garranchos!) o estado em que encontrava-se: leve, mais leve que tudo!

Nada de pesos machucando-lhe as costas, abrindo feridas impossíveis de cicatrizar-se sozinhas. Já nao havia bolas de ferro atarracadas aos seus pés. Caminhava escolhendo seus caminhos, mas agora era diferente. Nao andava às cegas, tateando, a tropecos, o nada. Nao, havia encontrado um guia, conhecedor do mundo, do homem, da natureza, do universo. Mostrava-lhe o caminho, mas era decisao sua obedecê-lo ou nao. E por isso queria gritar o mais alto que pudesse. Porque era livre.

A cada movimento, invadia, insistente, uma vontade de sair gritando aos quatro cantos da terra que estava livre do medo. Oh, o medo e sua maquiagem horrenda, sua vozinha insuportável e mesquinha, suas maos afincadas aos fios de sua camiseta, puxando-o, sempre, sempre, sempre para trás. Os pesadelos chegavam ao fim.

Era um dos pesos que o machucavam e nao iriam fazê-lo mais. As lágrimas de dor nao lhe deixava ver que chorar de alegria é infinitas vezes melhor do que chorar de tristeza.

Agora, depois de escutar tanto, queria viver aquilo, toda a explosao de amor e certeza que, a duras penas, havia entendido. Sabia que nao seria fácil, mas em breve, como na brincadeira, iria passar de mao em mao o anel. Passaria - ocultado pelo véu do tempo para ele desconhecido - ao par de maos cuja pulsacao transcendesse o natural. A vibracao de dois coracoes pulsando juntos, desejando o mesmo, era o sinal para num impulso, rapidíssimo, deixar rolar entre os vinte dedos o anel... O anel, há tao pouco grande ou pequeno demais para si, e agora de encaixe simplesmente perfeito.

Era incrível demais. Compreendê-lo estava fora de seus planos. Ou dentro, mas de forma diferente. Tudo agora seria diferente. Ele já nao sabia nada. Mas estava feliz. Feliz.

2 comentários:

Lupe Leal disse...

Eu entendo.
E também fico feliz.

Estrela disse...

Basta permitir-se. Tão simples. Tão desconhecido.