sábado, 15 de agosto de 2009

Conversas noturnas - monólogo 1


Marcella-colorida foi embora com um pedaço do meu arco-íris e agora tudo é cinza e entediante. Meus cigarros são meus dedos e eu os fumo assim: digitando. Quando o câncer da solidão vier por eu tanto fumar dedos... quando ele invadir, enegrecendo minha alma, não farei quimio, radioterapia. Engolirei as partes pretas e podres de mim, e nessa autofagia, nesse Oroboros, esperarei com um sorriso amargo aqueles dias prósperos que o aripiprazol prometeu.

Ou para evitar metáforas (como dizia Tiburi), esperarei o melhor dos reencontros.


7 comentários:

nai ara disse...

Não escrevi o texto para alertar aos doentes sobre qualquer tipo de exagero da parte deles ou demonstrar o que vc pode chamar de falta de empatia.

"Será que é chique e na moda depender de uma porcaria de pílula para sentir felicidade?

Acho que não. Quem gosta de ser infeliz, acaba sendo feliz na infelicidade. O masoquista, com a dor, sente prazer. Eles não são "doentes". São normais por conseguirem sentir prazer. Esses que se sentem orgulhosos em serem depressivos/bipolares/boderlines não são pacientes clínicos de verdade."

Escrevi o texto para alertar a banalização de doenças, que, por serem mentais, acabam ainda enfrentando preconceito e distorção, causando em grupos sociais e "tribos" uma "euforia" que me assusta, tranformando o que é doença, em algo que os caracterize... Isso não contribui nem um pouco para a conscientização de que ser depressivo/bipolar/boderline não é estado de alma, ou característica que denomina um ou outro grupo, e sim, uma doença. Isto você até citou acima, de que quem se sente orgulhoso disso, não é paciente clínico de verdade. Pois bem, isso foi entendido então...

Não que seja de importância ressaltar as minhas experiências a respeito, mas, sim, sei exatamente que não é nem um pouco chique depender de pílulas para ser feliz e muito menos estou saudável.
De repente, vc pode ter interpretado mal minhas palavras, que, muito contrário da intenção de tirar algum sarro ou mandar quem é doente às favas, tinha apenas o propósito de fazer com que percebam que isso não é brincadeira nem tendência.

"O assunto que você abordou é delicado demais, sugiro mais ponderação."

Entendi. Leia-se: "vc não tem propriedade para escrever sobre este assunto".
São os riscos que se corre ao escrever sobre o que se sente... Este assunto não é delicado. É real.
A realidade não fica cheia de dedos quando nos atinge... Pense nisso.
Um abraço ^^

arthur melo disse...

@nai ara: Li o post original e os comentários seguintes. Acho que isto

"muito contrário da intenção de tirar algum sarro ou mandar quem é doente às favas, tinha apenas o propósito de fazer com que percebam que isso não é brincadeira nem tendência."

esclarece o mal-entendido, que eu também senti ao ler o post, e acredito que você esteja certa.

O que Miss Lou Monde sugeriu não tem a ver, acredito, com "ter propriedade no assunto" ou não, mas ter em mente que enquadrar todo mundo que se diz deprimido/bipolar/borderline no mesmo grupo dos que querem estar "na moda", dos que exageram ou simulam sentimentos, é perigoso, pois a denotação poderia se estender àqueles que realmente precisam de ajuda.

Sobre esse assunto, mal-entendidos assim são fáceis de acontecer, daí a ponderação.

nai ara disse...

bem... não vou fazer do seu quadro de comentários um fórum de discussão...

arthur e Miss Lou Monde, apenas peço desculpas se causei confusão em quem leu o posto do blog e colocarei algum tipo de retratação ou algo parecido por lá.
;D

VP! disse...

essas dores da alma, do coração, mais debilitantes que qualquer câncer. doentias como invernos longos, destruindo a beleza dos jardins por nós cultivados. da janela o céu cinza não é tão assuatador, mas dentro dos meus olhos é um sofrer constante,como um vazio eterno.

exelente texto, os sentimentos estão muito bem narrados.

parabéns

VP! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jey Cassidy disse...

Perfeitoooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Quero ver ond foi parar Marcella-colorida hein...to até ansiosa por isso...rsss
saudade menina rod!
sempre me surpreende...=P

Anônimo disse...

"Meus cigarros são meus dedos e eu os fumo assim: digitando."

gostei muito.

e do texto 'A eloqüência dos fantasmas'

"Espero que tu nunca me entendas, porque então estarás tão desesperada quanto eu"

isso foi tão acertado.

:]